7 de novembro de 2008

"DON´T TRY"










"Esta noite estou a beber uma garrafa a mais de vinho à tua saúde"

Charles Bukowski



Quando Henry Charles Bukowski faleceu em Los Angels aos 9 de Março de 1994, deixou escrito um simples pedido. Que no seu túmulo consta-se "Don't Try" ou seja "Nem Tente". O aviso ficaria assim para os incautos e também aos vindouros . Tudo começa supostamente ao contrário. Nasce na Europa (Alemanha) na década de 20, acompanha então os seus pais no regresso ao EUA porque o pai segundo consta, terá sido militar americano na primeira Guerra Mundial. Infância para o jovem Charles significa espancamentos e falta total de carinho familiar, mas na porta da adolescência outros males se afiguram. Um ataque de acne desfigura-lhe por completo o rosto, logo motivo para violentos tratamentos e idas aos Hospitais, mas também causa mais que lógica de isolamento, em rigor a ausência sequer de Amigos. E quem nada têm por vezes tudo procura. Foge da ausência da infância que não teve, evita a sombra da adolescência não sentida, vai pela fuga em frente até que tropeça numa vida suportável pelos livros e o álcool. Mistura mais que explosiva. Alcoolismo a mais, emprego de horas precárias, poesia de rua, errância total mas anotando as curvas da vida. Os cadernos que falam das noites ao relento são já produções temperadas com muito álcool e vadiagem, por isso tantas recusas por parte das editoras. Não era ainda cómodo ter alguém assim por perto. Por ora não tinha chegado o seu dia. Aos 40 anos a poesia de Bukowski era contudo incipiente, mas o adulto Charles já fazia pela vida. Um vagabundo alcoólico, igual a outros tantos como Jack London ou Jim Tullys só que tinha descoberto algo que os outros não o souberam fazer: trabalhar a imagem! Para isso cria um alter-ego, Henry Chinaski, influenciado por Hemingway e Dostoiévsky fermenta já para a escrita o cocktail da repulsa, do ódio, amor, paixão e melancolia. Em definitivo "o matar do Pai". O mito do Velho Safado, vem a caminho. Mas Bukovski aprendeu a vender a imagem, aliás sabia bem demais como o fazer. A garrafa de vinho passa a ser companheira a tempo inteiro, mas a máquina de escrever também, os óculos escuros, a barba descuidada, a escrita é cada vez mais solta e biográfica, mais criativa, e ausente de qualquer ideia de censura. Um bom produto de marketing estava lançado, havia que cuidá-lo. Assim foi. Os livros passam a reproduzir os ambientes de Los Angels, ruas e atmosferas, bares e prostituição, os temas são simples mas abrangentes, misturam mulheres, corridas de cavalos, e música clássica. A época também ajuda, e passa a ser convidado para leitura de poesia nas universidades e eventos culturais. O fim de sempre! Muita bebida, brigas e arrufos faziam parte do produto que vende. A fama chegou na década de 80, de todos os quadrantes avançam convites. O cinema aponta os holofotes, as sonoridades de Eddie Vedder e dos Red Hot Chili Peppers pegam nos seus poemas, mas é tarde porque tudo têm o seu tempo. Por cá chegam livros a conta gotas, recordo " Ao Sul de Lugar Nenhum", "Mulheres" e "Crónica de um amor louco" .