29 de novembro de 2008

PORQUE HOJE É SÁBADO!



VERDADES:

'O Benfica sofreu uma goleada 'histórica', ao perder frente ao Olympiacos por 5-1, em jogo da fase de grupos da Taça UEFA'. Fonte: Expresso On line. 28.11.08


(EX)CITAÇÕES:

'Estou cansada como os portugueses estão cansados. Não dramatizo' Maria de Lurdes Rodrigues, ministra da Educação. Fonte: Público, 28-11-2008.

28 de novembro de 2008

O JOVEM TIRANO



A Editora ALÊTHEIA têm vindo a desenvolver um trabalho notável. Edita clássicos nacionais, avança no mundo particular que são as biografias e também as memórias. Um espaço que estava em aberto. Uma janela de oportunidades, acima de tudo quando se divulgam assuntos durante muitos anos intocáveis. Em 2006 foi dado à estampa, 'Estaline, A corte do Czar Vermelho'. Surgiu agora 'O JOVEM ESTALINE'. Falamos de investigação histórica desenvolvida por Simon Sebag Montefiore. Jornalista e historiador britânico, é um especialista na história da Rússia. Agora com a juventude de Estaline, surgem revelações quanto às suas origens, os sucessos e reversos da sua infância, mas também o percurso de um jovem seminarista. De agitador a assaltante de bancos, mas também a incendiário político. Segundo o jornal britanico, The Guardian « É brilhante o retrato que Montefiore nos traça de Estaline de mauser à cintura, Estaline o arruaceiro, assaltante de bancos e conspirador marxista, Estaline o incansável estudioso.(...)Quem quiser conhecer um dos mais sangrentos ditadores da história tem de ler esta original e provocadora obra». Começa assim o anotar de prendas para o meu Natal.


VERDADES:
"Tenho um Amigo, portista dos quatro costados, que após o jogo com o Fenerbahçe me enviou a seguinte mensagem: Era preciso ganhar em Kiev: ganhámos. Era preciso ganhar em Alvalade: ganhámos. Era preciso ganhar em Instambul: ganhámos. O Porto é como os Grandes Amigos: quando é preciso, está lá." João Vieira Pinto, in Jornal O JOGO.
(EX)CITAÇÕES:
"Percebe-se a pressa do BE em aprovar a nova lei do divórcio: queria separar-se de Sá Fernandes." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

27 de novembro de 2008

CORAÇÃO EM ÁFRICA



«Outro barco, o do navego, comprava géneros em Almeria e Gibraltar, palma na Berberia (Marrocos), ou ia a S. Martinho buscar o pêro que tem fama, levando do Algarve o figo, a alfarroba e o peixe seco para vender. Mas o grande negócio de Olhão foi sempre o contrabando. Não é contrabandista quem quer: é preciso inteligência e astúcia, arrojo, o alerta dum chefe selvagem e a imaginação dum poeta. Conheço um contrabandista famoso, o senhor Mendinho, que ainda hoje faz na sua goleta a carreira de Gibraltar. Tem setenta e dois anos, um grande engenho e promete levar a Alcácer Quibir todos os poetas portugueses.» OS PESCADORES, Raul Brandão.


Lembrei-me de Raul Brandão na hora do almoço. Gosto de fazer a refeição sentado, em volta de comida que com tempo é cozinhada. Vou na Madorna, arredores da Parede a um pequeno Restaurante, ao qual chamam 'A Cantina'. Sentei-me, e avancei para o repasto. Na mesa do lado, estavam três pessoas. Todos eram do sexo masculino, e trajavam roupas de outras épocas. Como o almoço para mim significa espaço de tempo, apercebi-me que por aquela mesa também não havia pressa. Falava-se de viagens. Parecia que tinham arrancado a folha de um calendário de parede. Como se o filme tivesse ficado com a bobine presa, e a imagem fixa em eternos minutos. África, Moçambique, os mares do Sul. Depois o que usava óculos, pousou as mãos junto do queixo e soltou um rumor 'que saudades tenho do Índico' . Então o filme voltou de novo a rodar. Viveram em Lourenço Marques. Eram portugueses que para ali tinham ido na década de cinquenta. A alegria com que falavam dos lugares. As praias, a cerveja, os aromas e a cor do mato, fixou-me a atenção. Falavam como se lá estivessem. Como estava perto, deu para perceber a felicidade daquelas pessoas. O simples recordar uma vida que passou num momento. Não falavam dos dias que correm. Recordavam um passado distante. Os Subarus picada dentro. A galinha ao cafreal. As gazelas da Suazilândia. As mulheres e o luar nas noites do Índico. Aqueles relatos de quem deixou o coração por aquelas terras, recordou-me o cronista/viajante, Raul Brandão « Há três dias que ando metido na ria, com a barba por fazer, sujo como um ladrão de estrada (...) meia dúzia de esboços, apontamentos rápidos (...) quando regresso do mar venho sempre estonteado e cheio de luz que me trespassa». Fiquei com a sensação que os meus companheiros da hora do almoço, nunca haviam regressado da sua terra. África.


(EX)CITAÇÕES

"Carlos Cruz não se suicidou e está de boa saúde." Serra Lopes, advogado de Carlos Cruz. Fonte CM.

26 de novembro de 2008

'FRANCESINHAS'




Uma alegria na noite de ontem. O Porto! Começa por ser uma tradição ver o F. C. do Porto na Europa do Futebol. É uma imagem de marca. Antecipando a quadra festiva, e depois de um jantar algo tardio, o Bolo de Rei surgiu na mesa acompanhado de um cálice de Porto Vintage. Soube-me bem.
(EX)CITAÇÕES:
'A equipa de Jesualdo já tem o bilhete para a próxima ronda da Liga milionária, pela terceira vez consecutiva na história do clube.' Fonte: Expresso

25 de novembro de 2008

O FESCENINO, RUBEM FONSECA





«Os japoneses têm um provérbio: o sujeito começa a envelhecer quando não quer mais aprender. Meu provérbio é que o sujeito começa a envelhecer quando não quer mais amar, quando perde o entusiasmo pela comunhão sexual, não tem mais coragem de enfrentar a incandescência, os refinamentos eróticos e também as desilusões, aflições e a logística exasperante da aventura amorosa.» DIÁRIO DE UM FESCENINO, Rubem Fonseca




Conheci os livros de Rubem Fonseca quase num acaso. Procurava livros policiais, e fui de encontro a um exemplar da COLECÇÃO MIL FOLHAS nº.87 do Jornal Público - 'O Caso Morel' Na contra capa li o seguinte 'Morel é um homem magro, pálido, cabelos escuros, grisalhos nas têmporas. Rugas fundas cortam seu rosto. Veste uma camisa branca e calça cinza, amassadas. Possivelmente dorme com aquela roupa'. Devo ter dado um sorriso, e pensei - conheço este tipo! Rubem Fonseca vem no arrasto da frase curta. Respira com o bater do teclado, que tanto pode ser no computador como no tamborilar do samba. Ali fuma-se, bebe-se aguardente de borra. Não se lhe chama cachaça, apenas os restos da cana-sacarina. Linguagem directa. Três tiros num charuto, personagem despida e a falar. O homem até foi polícia! Pouco mais pode esconder porque nada tem. Começou o inquérito, rumo ao auto de delito. Todas as personagens de Rubem Fonseca circulam entre a inquietação, a fúria, e a corrosão de sobreviver a este mundo. Escrever a pessoa humana no Eu de tempos distintos, é obra. Soma-lhe a atmosfera do suspense, depois as subversões, mas também as naturais contradições. Rumo preciso e inventariado, ao que chamo de autópsia ao carácter das suas personagens. Lido 'O Caso Morel' juntei-lhe 'MANDRAKE A BÍBLIA E A BENGALA', ainda, 'A GRANDE ARTE' e o 'DIÁRIO DE UM FESCENINO'. Recentemente fizeram-me chegar 'ELA E OUTRAS MULHERES'. Não se encerra, por ora o ciclo do 'Fescenino'. Quando pela primeira vez peguei em 'O CASO MOREL' lembrei-me do Júlio Americano. Personagem que deambulava por Santarém na década de 60 e 70. Vivia de vender papelão, circulava como um dandy entre o sobejo da vida e a citação de grandes clássicos da literatura. Tinha golpe de asa. Rubem Fonseca escreve com essa forma de vida.



(EX)CITAÇÕES:

"Vamos ver se impede a progressão dos professores a três meses das eleições." Mário Nogueira, sindicalista. Fonte: CM.

23 de novembro de 2008

LICOR BEIRÃO

«O licor beirão é um licor típico de Portugal. A sua produção teve início no século XIX, na vila da Lousã.
É preparado com diversas plantas (entre as quais o
eucalipto, a canela, o alecrim e a alfazema) e sementes aromáticas, que são submetidas a um processo de dupla destilação. É normalmente consumido como digestivo, simples ou com gelo. » Fonte: Wikipédia

Gosto do Licor Beirão. E gosto deste estranho País de afectos raros. Hoje bebi um cálice de Licor Beirão com gelo. Bebi porque me lembrei de Amália, mas também de Mafalda Arnauth, Carlos do Carmo, Ana Moura, Camané, e de Tito Paris e Lura, que canta 'di korpu ku alma'. Gosto de ouvir cantar em crioulo, porque sou Português. Gosto de Fernando Pessoa, porque escreveu um País, e gosto dos livros de Alfredo Saramago, Luís de Sttau Monteiro, Ruben A, Francisco José Viegas e Miguel Sousa Tavares. Mas também de António Mega Ferreira, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, José de Almada Negreiros, Mário-Henrique Leiria, Cruzeiro Seixas, António Alçada Baptista. Gosto de ler António Tabucchi, o italiano que em português escreveu 'Mulher de Porto Pim'. Gosto de ver cinema em Português. 'Kilas, O mau da fita' de José Fonseca e Costa, mas também 'Porto da Minha Infância' de Manoel de Oliveira, ou ainda 'A Cidade Branca' de um realizador suíço, de nome Alain Tanner. Gosto imenso da nossa gastronomia mas também dos vinhos. Por ora penso no Alentejo e na região do Dão, mas não esqueço o Douro. Que região aquela. E Trás os Montes e as alheiras da Gabriela, em Sendim.Únicas! Vai sendo tempo de vos dizer porque me lembrei do 'Licor Beirão'. É que 'nem tudo muda com o tempo. Ainda temos o MEC.' Grande (ent)revista em Português. A revista LER - Livros & Leitores, merece um brinde, mas também a Miguel Esteves Cardoso.

(EX)CITAÇÕES:

"Que tal suspender o professor Carlos Queiroz por seis meses?" Francisco Almeida Leite, no blogue Corta-Fitas.


22 de novembro de 2008

PORQUE HOJE É SÁBADO!


Gosto de futebol. Digo de peito aberto, sem quaisquer constrangimentos. Não me preocupa se é porventura um desporto menor ou maior. Se supostamente contém falsidades. Para mim é um amplo fórum onde todos gostam de opinar, uns podem outros não. Sempre assim foi. Gregos e Romanos deixaram-nos essa tradição. Nada a fazer, até porque a nossa influência céltica é mínima. Quando digo, gosto de futebol, digo também que gosto muito do Futebol Club do Porto. E gosto também de 'pequenos' clubes que jogam sem a chamada 'base'. Correm, jogam duro, sem mazelas, sem queixumes. Deixam o trabalho dos treinos, em campo. Por isso fazem a vida difícil aos grandes. O Leixões, A Naval estão neste rol. Felizmente. E também gosto da selecção, quando se optam pelos melhores jogadores, sejam do FCP, SLB, SCP, ou de qualquer equipa que o Seleccionador escolha jogadores. Acredito que o faz de boa fé, escolhe pura e simplesmente os melhores. Por tudo isto não estive com a Selecção na época Scolari. Não esqueço o que se fez a um jogador campeão europeu de clubes.E só falo deste troféu. Vítor Baía não merecia, o futebol português também não. Como gosto de futebol e da selecção, não posso ver com bons olhos o que se passou na passada quarta-feira em terras de Vera Cruz. Um passeio, uma peladinha, um recreio, um jogo de matraquilhos, uma falta de respeito total. Reconheço o prestigio de Carlos Queiroz. Chegou onde chegou não por mero acaso. A sorte não protege sempre os audazes. Por isso acho que é apenas um mau momento, mas existem limites. Foram ao Brasil para aquilo? Foi péssimo. Uma imagem de amadores, de jogos de solteiros e casados, um tiro total em cada pé. Pensar-mos nós que entre aqueles jogadores, estão alguns que se dizem os melhores do mundo! Tempo sem dúvida para reflectir. Para 'exibições' assim mais vale ficar no ginásio.

(EX)CITAÇÕES:

'Há dois sentimentos contraditórios: um, é vir para o jornal dizer que eles jogam um futebol de merda; outro, é acrescentar-lhe que são uns paquidermes mimados'. FONTE: Crónicas de Francisco José Viegas.

21 de novembro de 2008

'A GUIDINHA'


No ano de 2004 o jornal O INDEPENDENTE, editou um livro com o título 'A GUIDINHA ANTES E DEPOIS'. Evocou assim não só um escritor português, como também um dos nossos maiores cronistas.LUÍS STTAU MONTEIRO. Mas quem foi Sttau Monteiro?
'Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu no dia 03/04/1926 em Lisboa e faleceu no dia 23/07/1993 na mesma cidade. Partiu para Londres com dez anos de idade, acompanhando o pai que exercia as funções de embaixador de Portugal. Regressa a Portugal em 1943, no momento em que o pai é demitido do cargo por Salazar. Licenciou-se em Direito em Lisboa, exercendo a advocacia por pouco tempo. Parte novamente para Londres, tornando-se condutor de Fórmula 2. Regressa a Portugal e colabora em várias publicações, destacando-se a revista Almanaque e o suplemento "A Mosca" do Diário de Lisboa, e cria a secção Guidinha no mesmo jornal. Em 1961, publicou a peça de teatro Felizmente Há Luar, distinguida com o Grande Prémio de Teatro, tendo sido proibida pela censura a sua representação. Só viria a ser representada em 1978 no Teatro Nacional. Foram vendidos 160 mil exemplares da peça, resultando num êxito estrondoso. Foi preso em 1967 pela Pide após a publicação das peças de teatro A Guerra Santa e A Estátua, sátiras que criticavam a ditadura e a guerra colonial. Em 1971, com Artur Ramos, adaptou ao teatro o romance de Eça de Queirós A Relíquia, representada no Teatro Maria Matos. Escreveu o romance inédito Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão, adaptada como novela televisiva em 1982 com o título Chuva na Areia.
Obras – Ficção: Um Homem não Chora (romance, 1960), Angústia para o Jantar (romance, 1961), E se for Rapariga Chama-se Custódia (novela, 1966). Teatro: Felizmente Há Luar (1961), Todos os Anos, pela Primavera (1963), Auto da Barca do Motor fora da Borda (1966), A Guerra Santa (1967), A Estátua (1967), As Mãos de Abraão Zacut (1968).'Fonte:Projecto Vercial
Para ficarem com uma ideia de quanto é maravilhoso o livro que hoje sugiro, transcrevo apenas um pequeno trecho: ' O meu padrinho José Cardoso Pires é um safado que nunca me dá amêndoas pela Páscoa nem presentes pelo natal e que está em Londres com a consciência tranquila enquanto a afilhada anda por cá a rapar fome por causa da alta dos preços e a ficar azarzoada com os discursos dos políticos (...) o safado é tão esperto que emigrou para o país do whisky '.

(EX)CITAÇÕES:

'Cansei-me de levar bordoada por dizer que José Saramago não sabe escrever.'Ilídio Martins, no blogue Esmaltes & Jóias.

'Eu sei quem me agrediu. Tenho aqui num papel'. Leonor Cipriano, no tribunal, fonte: C. da Manhã.

20 de novembro de 2008

A VIDA EM DIÁRIO

O meu tropeço na escrita de Marcello Duarte Mathias também foi fruto do acaso. Em 1985 no alfarrabista de sempre, (Cascais) tropecei 'No Devagar Depressa dos Tempos', Diários Vol. I 1962-1969, Bertrand, Lisboa 1980. Surpresa total, pois não encontrava ali ponta de remorso quanto ao nosso passado histórico, mas uma aventura permanente em viver o presente. Mais tarde comprei em estado bastante usado 'A Felicidade em Albert Camus, aproximação à sua obra' Bertrand, Lisboa 1978 e conheci então um Camus diferente, fora das paixões existenciais, alguém que como um comum mortal perde a vida, dormindo no banco de trás de um automóvel. Como costumo dizer, fiquei cliente! Gosto dos livros de Marcello Duarte Mathias. Fotografias da vida a preto e branco, sem disfarces, mas também sem os estigmas de que a razão e a solidariedade e suas causas, só pertencem à margem esquerda. A entrevista seguinte (DN 22-05-07) é bem o retrato de uma vida.

«Tem vindo a cultivar o género do diário, além do ensaio e da crónica, a par da sua actividade enquanto diplomata. Nesse domínio, acaba de publicar Diário de Paris (2001-2003). "Todo aquele que escreve é, à sua maneira, um exilado?"Escrever é tomarmos consciência da nossa singularidade. Do que fomos e somos. Em última análise, sim, escrever é uma forma de exílio. O diário - ou melhor o género que se designa por diário íntimo - é uma procura permanente da nossa individualidade.Nesse sentido, escreve "para coincidir consigo" próprio, entre aquilo que crê ter também um diário: uma dose de narcisismo e outra de masoquismo?Todo o diarista, e são inúmeros os exemplos que o comprovam, passa por fases contraditórias que são características afinal da prática diarística. Momentos de euforia e depressão, por vezes quase em simultâneo. Regra geral, o diário traduz um duplo movimento, a saber: um desejo de autoconhecimento em paralelo com a vontade de se inventar, de ser outro.Um fármaco, uma terapia sui generis, a autobiografia, o diário?A autobiografia é fundamentalmente um balanço, um olhar retrospectivo sobre a totalidade da vida vivida, numa palavra, um ponto final. Ao invés, o diário é a memória a construir-se, um devir permanente. Daí o lado inacabado de todos os diários. Em numerosos casos, o diário - porque se assemelha a uma confissão - tem, de facto, uma função terapêutica. Corresponde, à sua maneira, a um exorcismo.Diagnosticam-lhe, em Paris, um linfoma. Tenta evitar que o cancro contamine as páginas do seu diário, faz dele um antídoto. Não escamoteia a doença, pega-a de frente, até na observação ácida e lúcida dos outros na relação consigo próprio doente...Em situações de extrema solidão interior - caso do cancro -, o diário faz as vezes de um amigo em quem se pode confiar. Oferece a possibilidade de nos evadirmos de um dia-a-dia tantas vezes penoso. Reencontro que é também uma libertação. Está-se mais só e mais livre.Como escreve, "estar doente é ter medo, sentir-se a menos, morrer vivo, é sentir um esvaziamento, perder a generosidade"? A dor não pode ser redentora, constitutiva?Julgo que a doença, uma vez passada, pode eventualmente constituir um enriquecimento como toda e qualquer experiência. Introduz uma certa relativização das coisas, estabelecendo, do mesmo passo, uma hierarquização de valores e prioridades. Mas nisto, como no resto, cada um reage à sua maneira.Viver é saber conciliar o tempo com a morte, simbolizados, como refere, respectivamente pelo relógio e pela caveira? Julgo que sim. Lograr conciliar o tempo e o fim dele, que é a nossa morte, é afinal saber viver. Difícil aprendizagem. Difícil equilíbrio. Há que aceitá-lo sem dramas, mas de olhos abertos.Definir-se-ia como um céptico saudável?Sim, o cepticismo é um estado de espírito saudável. Porque ser céptico é ser-se vigilante, o que nunca fez mal a ninguém, sobretudo nos tempos que correm, em que vivemos rodeados de falsas cintilações e falsos deuses. Em diversos planos. Um exemplo: veja-se a propaganda desavergonhada que serviu de pretexto à invasão do Iraque, que levou tanta gente de boa-fé ao engano! Posto isto, o cepticismo - que é, no fundo, um distanciamento - não deve descambar em desalento ou derrotismo, nem conduzir à inacção. Há todo um equilíbrio que importa salvaguardar. Tenho por hábito citar esta frase de Ruben A., que acho magnífica: "Ser homem é ter um ideal e não ter ilusões." Está tudo dito.Que entende por falsos deuses e falsas cintilações?Tudo aquilo e todos aqueles que brilham sem luz própria.No seu diário, parte da perspectiva individual para a colectiva. É longa a tradição de um Portugal visto e interpretado de fora pelos intelectuais portugueses. Uma imagem amarga, a sua, a de um "país sem convicções, desmemoriado", que vive, tal como salienta, com o futebol?O facto de ter vivido largos anos no estrangeiro talvez me tenha dado um outro olhar para com a realidade do nosso país. Parece-me que temos vindo a perder - embora este fenómeno não seja exclusivo de Portugal - muitas das nossas referências tradicionais, como se de súbito nos tivéssemos tornado amnésicos. É um processo alarmante, mormente para quem, é o meu caso, pertence a uma geração mais velha que dispõe de outra perspectiva. Quanto ao futebol, considero tratar-se de uma patologia nacional, para a qual não vejo nem cura nem remédio.Portugal, "um acrobata em desequilíbrio" numa Europa "em que uns dançam ao som da música que outros tocam"?Quando se fala do processo político da integração europeia, há sempre que ter em conta dois aspectos: as iniciativas que aparentemente são benéficas para a Europa no seu conjunto; a incidência que essa mesmas iniciativas possam ter quando aplicadas ao país A, B, ou C. Nem sempre os dois planos coincidem. Como se sabe, a igualdade entre países no contexto internacional é coisa que não existe. Por isso tanto na Europa, como fora dela, "uns dançam ao som da música que outros tocam". Importa minorar esses efeitos, o que não é fácil.A nova geração portuguesa já não lê Eça e perdeu o sentido da História, como escreve com veemência no seu diário?Oxalá eu me engane, mas a observação da vida portuguesa sugere, como já o disse, que o sentido da nossa história, memória determinante do que somos e ambicionamos ser, também se tresmalhou, sem que nada o tenha substituído.Tresmalhou-se em que sentido?Perdeu o rumo e não sabe de onde vem. Adaptamos, como coisas nossas, com zelos de neófito, toda a espécie de preconceitos, inconformismos, modas culturais. Navegamos ao sabor da corrente. Falta-nos fibra, irredentismos, desassombro. Temos medo de ser diferentes.Escreve, no fundo, para fugir ao tempo, porque se tem "medo de viver e se vive a dobrar". É fazer um inventário da existência?Escreve-se sempre contra o tempo, que é o grande cúmplice e o inimigo de quem escreve diários. Contudo, o facto de tomar notas com carácter de assiduidade leva-nos a conferir maior atenção ao mundo à nossa volta, a melhor assimilar a realidade temporal que nos circunda, vive-se mais ou de outra forma. Se quiser, é o tal " viver a dobrar".É preciso recordar, com Séneca (a partir de Foucault), que as relações consigo próprio como objecto de conhecimento é uma forma de quase impossível salvação?No fundo, melhor ou pior, a salvação radica no próprio acto de escrever. É ele que nos redime.A memória é, de certo modo, uma glória. Nessa medida, como recorda seu pai - presente neste diário - Marcello Mathias, embaixador de Portugal em Paris, entre 1948 e 1958, e ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Salazar, entre 1958 e 1961?O meu pai foi a pessoa que maior influência teve em mim. Teve e, ainda hoje, tem. Foi o espírito mais livre que conheci.Chamaria poliédrico a este seu diário?Seria presunçoso da minha parte definir o meu diário. Direi apenas que a diversidade dos temas me parece ser um dos seus méritos.Que trouxe de alguns dos países onde esteve no exercício de funções diplomáticas?Do Brasil, a descoberta de um Portugal diferente; da Bélgica, uma certa Europa; de Nova Iorque, uma energia contagiosa; da Índia, uma imensidão de tempo; da Argentina, um país de encruzilhada, à espera de si mesmo; de Paris, um mundo de afinidades.A memória é ainda "feita do que não viveu". Escrever é tornar a imaginação acção?Escrever equivale sempre a ficcionar. Porque é transpor, encenar, imaginar, reescrever. Corresponde à emergência de outra realidade, mais próxima de nós, mais pessoal. É conhecido: toda a memória - do que existiu e do que não chegou a existir - é invenção. Ao fim e ao cabo, também isso nos ajuda no acto de viverFonte: Entrevista ao DN-2-05-07.


(Ex)citações:

'Se fosse primeiro-ministro, punha António Costa já na 5 de Outubro. Ficava com que se entreter.' Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura.

'Há apenas uma coisa mais irritante do que a bazófia do Governo: os líderes da oposição.' M. Jorge Marmelo, no blogue Teatro Anatómico.

19 de novembro de 2008

«Sá Carneiro deve dar voltas no túmulo»




Confesso que tinha o 'post' pronto. Era dedicado a um escritor que muito prezo. Marcello Duarte Mathias. Gosto da escrita deste diplomata/escritor. A vida num Diário! Apenas, sublime! Assim como também prezo e muito a figura mítica de Francisco Sá Carneiro. A sua ligação ao que foi a ala liberal, a fundação do PSD com baptismo de Ruben Andersen Leitão, a própria juventude da democracia portuguesa pós-revolução. Uma aventura na década de 70. Até o 'mistério' que envolve a morte de um primeiro ministro de Portugal deveria-nos sempre recordar os combates cívicos de Francisco Sá Carneiro.

Por tudo isto, o 'post' de hoje remete para uma (ex)citação da líder do maior partido da oposição. Portugal século XXI - no seu melhor!

'não seria bom haver seis meses sem democracia' para pôr 'tudo na ordem'.

Coloco ainda a questão de outra forma. Em determinados almoços 'não seria bom' beber-se apenas água?

Amanhã, falamos de Marcello Duarte Mathias. A democracia agora passa a semestral!

17 de novembro de 2008

'PORTUGUÊS SUAVE'



Porque gosto de Futebol, não posso deixar de dizer: Grande Leixões Sport Club. Bela lição de futebol, - ' sem base '. José Mota no seu melhor. Fazer pela vida, mas a sorte procura-se. Por ali para além de alegria, existe equipa e trabalho. Momentos de glória - merecidos - para um guerreiro, - José Mota.
Porque simpatizo com a escrita de Miguel Sousa Tavares, e muitas das suas posições face ao quotidiano deste país, passo a citar: «Seja qual for o desfecho final desta interminável batalha entre os professores e a ministra da Educação (e se algum dia houver desfecho...), parece que só restarão vencidos. Para começar, a ministra, derrotada politicamente e desacreditada perante os seus próprios pares; os professores, cuja guerra, apesar de tanta cobertura e apoio mediático, não convenceu ainda a maioria da opinião pública e, sobretudo, os pagadores de impostos para o ensino: até podem vir a ganhar circunstancialmente a batalha contra a ministra, mas o que passará para fora é que se bateram pela manutenção tal qual de uma situação que, em muitos aspectos, é insustentável; e perderão também os pais e alunos, com a sensação de que, por razões certas ou erradas, a primeira verdadeira reforma que se tentou no ensino não universitário falhou e tão cedo ninguém se atreverá a tentar outra. Fica tudo ou quase tudo como dantes - o que quer dizer que fica pior para o futuro.
Na verdade, se algum vencedor desta guerra há, até à data e no futuro previsível, é a Fenprof e, por extensão, o PCP, que dela fez o seu batalhão de elite no combate ao Governo - este ou qualquer outro, conforme é de sua tradição. Basta ter reparado no entusiasmo com que o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, viu chegar Setembro e o fim desse período morto das férias de Verão, o fervor com que prometia um ano escolar agitado de princípio a fim (e antes mesmo de saber o que faria a ministra), para adivinhar qual é o seu objectivo final: ganhar na rua o que se perdeu nas urnas, impor nas escolas o voto de vencido do parlamento. Dizem muitos professores, e eu acredito, que não são os sindicatos que extremaram a luta e conseguiram pôr os professores nas ruas, mas sim a própria ministra, a sua intransigência e incapacidade de ler o descontentamento da classe. Talvez seja mesmo assim, já que a própria ministra parece ter sido levada ao engano, quando achou que, tendo negociado a avaliação com a Fenprof, o acordo atingido lhe garantiria agora um ano de tréguas - para depois perceber que, afinal, nem uma grande parte dos professores se reconheciam no acordo feito, nem a Fenprof, tendo-o percebido, estava disposta a honrá-lo.
Facto é que, liderando a batalha ou cavalgando a onda, Mário Nogueira tem conseguido manter-se sempre no topo da agenda política, como nenhum outro dirigente sindical do PCP consegue desde há muito. O seu estatuto é tal que já ninguém, por exemplo, ousa contestar ou ao menos verificar os dados que ele fornece para a opinião pública. Se a Fenprof anuncia que estão 120.000 manifestantes em Lisboa, nem a polícia, o governo civil, o Governo ou a imprensa se dão já ao trabalho de duvidarem: ficam 120.000 de números oficiais e esse passa a ser um facto. E se, logo a seguir, a Fenprof e Mário Nogueira vêm dizer que a ministra, em mais uma demonstração de autoritarismo e terrorismo político, proibiu os professores de se reunirem nas escolas, toda a imprensa publica essa informação como facto adquirido e o 'Público' sente-se obrigado a tomar posição editorial, escrevendo que isso "é feio, nada democrático e revelador de um espírito pouco honesto na forma como se pretende fazer vingar o modelo de avaliação". (Detalhe: a notícia era falsa - simplesmente e completamente falsa. Mas nem o 'Público' se sentiu motivado em pedir desculpas à ministra por a ter chamado desonesta, nem Mário Nogueira se sentiu atrapalhado por ter andado a divulgar uma mentira - pelo contrário, até conseguiu ver nisso uma confirmação de que "os professores vivem em clima de medo, gerado pelas sucessivas ameaças da ministra").
Sozinha contra toda a oposição, desamparada dentro do próprio partido - onde se começa a temer os reflexos eleitorais da sua 'teimosia' - a pobre Maria de Lurdes Rodrigues vê saltar punhais de todas as esquinas e só lhe resta o apoio do primeiro-ministro para não meter baixa psiquiátrica ou fugir para muito longe daqui. O que há-de pensar um governante que vê toda a oposição criticar o seu "autismo" e "autoritarismo" na defesa de uma reforma feita "contra os professores", mas sem que ninguém tenha a coragem de dizer que é contra a avaliação ou que, chumba esta mas propõe outra? Veja-se o caso de Manuela Ferreira Leite, que é exemplar: em Março, depois da primeira manifestação nacional dos professores, ela, na sua posição de comentadora política e «outsider» do PSD liderado por Menezes, dizia que a ministra não podia recuar de forma alguma; sete meses volvidos, já na sua qualidade de candidata a primeiro-ministro e na véspera de nova manifestação de professores, vem dizer que a ministra tem de desistir, porque há muita "crispação" entre os professores.
Este é, aliás, o ponto central da polémica. Dou de barato que o processo de avaliação seja insuportavelmente burocrático, que afaste os professores do que interessa para os fazer gastar energias no supérfluo. Mas a avaliação, em si mesma, é tudo menos uma coisa supérflua e sem importância. Cá fora, na 'vida civil', a avaliação é regra número 1 do contrato de trabalho: progride-se na profissão, é-se aumentado ou não, conforme os superiores hierárquicos ou o patrão avaliam o trabalho dos empregados. Sempre foi assim, nunca ninguém estranhou e ninguém quer de outra maneira. Mas no Estado as regras são diferentes: progride-se simplesmente pela passagem dos anos, seja qual for o desempenho - por isso é que se diz que ali a antiguidade é um posto. Tanto faz que um trabalhador falte muito ou falte pouco, que produza resultados ou não, que seja criativo e empenhado ou não: basta ficar sentado, deixar passar o tempo e há-de subir sempre. Muitas vezes penso que a nossa administração pública funciona em autofagia administrativa: existe, não para prestar um serviço público, mas para servir quem a serve. A ausência de avaliação profissional, no ensino como em tudo o resto, não é apenas um prémio aos medíocres, é também um castigo e um factor de desmoralização para os bons.
Por isso, em voz alta, ninguém se atreve a dizer que a avaliação proposta para os professores é uma coisa injusta e sem sentido. Dizem que esta não serve, mas não propõem nenhuma outra - é típico do sindicalismo que temos. Alguém já ouviu a Fenprof propor outra avaliação ou outro qualquer método de premiar os melhores professores e castigar os professores dos falsos atestados médicos? Eu ouvi a alguns professores que até não alinham com a Fenprof que não se sentiam capazes de avaliar colegas. Antes também recusaram, e julgo que com razão, a proposta da ministra para que os pais participassem também na avaliação. Então, quem a deve fazer? Manuela Ferreira Leite propôs subitamente uma "avaliação externa". Mas quem a fará, com competência para tal? E será que os professores, que, pelos vistos, não querem uma avaliação interna, aceitariam uma externa? Imagine-se...
Assim, como as coisas estão, não há saída. Acontecerá uma de duas coisas: ou a ministra começa a ceder no essencial, mantendo o acessório (como já parece estar a acontecer com o deferimento para mais tarde dos efeitos da avaliação), ou acaba por desistir e tudo volta à estaca zero. Esse é o objectivo final das corporações que governam de facto entre nós e do sindicalismo conservador que, em associação com elas, visa tornar o país ingovernável. Todos sabemos que é assim: na educação, como na saúde, na justiça, na administração pública, no poder local, no sector empresarial ligado ao Estado. Por isso é que, independentemente do seu feitio, do seu método ou das suas razões até, a derrota final de Maria de Lurdes Rodrigues representará o último sopro de vida de um país eternamente adiado. Depois disso, é inútil tentar reformar o que quer que seja porque está dada a receita para o insucesso. Quem vier a seguir para governar o Estado escusa até de ter programa político: pode limitar-se a dizer que não vai deixar de pagar salários, pensões e subsídios, e toda a gente ficará tranquila.".
Fonte: Expresso.

Porque gosto de romances escritos em Português com sotaque, chapelada para Francisco José Viegas, «O carioca Sérgio Sant'anna é um dos melhores narradores actuais do Brasil – a sua editora portuguesa, a Cotovia (que já tinha lançado 'O Voo da Madrugada', volume de contos), acaba de publicar 'Um Crime Delicado'. Para ler até ao fim».Fonte: As crónicas de FJV.
Assim se começa uma semana, em PORTUGUÊS SUAVE.





16 de novembro de 2008

'TEMPOS QUE JÁ NÃO VOLTAM MAIS'




Porque gosto de Livros e de Cinema. A escolha para ler ou voltar ao grande ecran, aqui fica. Entre o passado e o presente de uma história extraordinariamente bem (re)contada. Boas leituras, bom cinema!



«Um livro delicioso sobre a doce melancolia dos tempos que já não voltam mais. Evelyn Waugh conseguiu, ao escrever Reviver o passado em Brideshead com incrível veracidade e subtil detalhe, captar o ambiente social dos Marchmain, uma família nobre inglesa, no período que antecede a II Grande Guerra.
Charles Ryder, filho de um burguês de classe média de Londres, encontra casualmente na velha
Universidade de Oxford o encantador Sebastian Flyte (um dos filhos dos Marchmain) e os seus excêntricos amigos. A sua vida muda radicalmente e Charles desperta para um mundo novo. Na sua "velha" vida seria impossível para Charles viver o delicioso episódio, transcrito a seguir, em que Anthony se gaba da forma como conseguiu expulsar de sua casa um grupo de colegas homófobos:
"Pois como sabem tenho (na minha casa) um par de esculturas de Brancusi e um conjunto de coisinhas lindas e não queria que eles se armassem em duros (e quebrassem algo), por isso disse, pacificamente: "Doces brutinhos, se vocês conhecessem algo de psicologia sexual saberiam que nada me poderia dar um prazer mais profundo que ser maltratado por vocês, seus rapagões. Seria um extâse do mais malicioso possível. Por isso se algum de vocês quer ser meu parceiro no prazer venha e agarre-me já com força. Se, por outro lado, apenas desejam ver-me tomar banho para satisfazer alguma líbido mais obscura e menos classificável, sigam-me até à fonte calmamente, meus queridos." E sabem que mais? Ficaram todos com ar de tontos depois do meu discurso. Saí com eles (para a rua) sem que nenhum se atrevesse a chegar-se perto de mim. Subi para a fonte e, sabem, foi super refrescante pelo que fiquei por ali a chapinhar e a fazer cenas, até que eles desistiram e regressaram sombriamente a suas casas".
Charles não resiste ao apelo do turbilhão de vida que é Sebastian, tão contrastante com a sua própria vida monótona e cinzenta, e rapidamente se apaixona por Sebastian. Mas nem tudo são rosas, e com Sebastian vem a família de Sebastian, também encantadora mas duma forma mais requintada e formal, mas sobretudo muito problemática e complexa nas relações, na fé e nos afectos.
Charles acaba por se afastar, casar e ser pai de dois filhos, mas o reencontro fortuito com outro Marchmain, desta vez a irmã mais velha de Sebastian, Julia, por quem agora se apaixona, leva-o de volta ao turbilhão de Brideshead. Reviver o passado em Brideshead é, pois, a história de uma intensa paixão de juventude que não pode ser revivida nunca mais...»Fonte:Wikipedia.
http://www.youtube.com/watch?v=X0Xql3fDM44

15 de novembro de 2008

A ESCOLA PORTUGUESA


«Blog # 223
Há trinta anos que a escola portuguesa entrou em colapso; a breves espaços levanta a cabeça e organiza-se. Mas são apenas excepções. Por isso, o que me preocupa nas escolas não é, propriamente, o sistema de avaliação dos professores – que constitui um braço-de-ferro político e sindical. Fico mais preocupado com o que se ensina lá. Não vejo as autoridades ou os sindicatos interessados no assunto. O ideal seria que a avalização dos professores e das escolas se fizesse através de uma entidade externa, independente, que se preocupasse com a qualidade do ensino, a qualidade das condições de trabalho e de aprendizagem e com o nível desse trabalho e dos seus resultados. É uma solução muito mais "conservadora", mas é a única que pode resolver o imbróglio em que se meteu esta gente.» Fonte: As crónicas de Francisco José Viegas.

14 de novembro de 2008

ALFREDO SARAMAGO


No ano de 1999 fui festejar o S. João, na capital da extremadura da nossa vizinha Espanha, Badajoz. Levei comigo um livro, com o título 'OS PRAZERES DE ALFREDO SARAMAGO´ editado em Maio do mesmo ano, pela Assírio & Alvim na colecção Peninsulares.
Rumei ao San Juan para ver ´los toros' , visitar o Alexandre no seu templo dos charutos, e dizer presente, num dos lugares míticos da gastronomia extremenha, - O Marchivirito.
Lembrei-me de Alfredo Saramago, porque perante os dias que se arrastam entre crises e cinzentismo generalizado, que melhor remédio o de revisitar alguém que nos sugeriu e recomendou, o prazer de saber escolher e de viver. E quais foram os prazeres de Alfredo Saramago? « Prazer de ser feliz, da revolta, do Sol, da inocência, da pintura, das pílulas, do passado, das grandes orquestras, dos gordos, do Outono, das religiões, do Natal, da memória, da longevidade, do libertino, do supérfluo, do imaginário, do futebol, da fé, da excelência, do corpo, dos charutos, da caça, das biografias, da tauromaquia, da adivinhação, do regresso da viagem, da aventura, da síntese, de comer, da doçura, da lampreia, do porco, do bacalhau, caviar, chá, café e do prazer do vinho do Porto».
Dias felizes aqueles que passei no S. João de Badajoz. Até sempre, Alfredo Saramago!
http://www.assirio.com/autor.php?id=974&i=F

13 de novembro de 2008

'LETRA E MÚSICA'





«Depois, houve outro tipo sensacional que, se tivesse publicado agora, era um bestseller e que se chama Paulo Castilho. Fora de Horas...é um monumento. Foram livros que me mostraram que era possível escrever de uma forma fácil, escorreita. Que se podia escrever como se fala»Margarida Rebelo Pinto, Revista LER, Julho/Agosto2008.







No Verão de 1990 peguei num livro, com o título 'FORA DE HORAS' editado pela Contexto, e de um autor de nome Paulo Castilho. Não era totalmente desconhecido, pois sete anos antes li 'O OUTRO LADO DO ESPELHO' com edição da Editorial Notícias. Guardei da leitura de 'FORA DE HORAS' algumas notas de viagem, dessa descoberta do texto de frase curta. A escrita de Paulo Castilho, era algo como um enorme cenário de celulóide. Um roteiro pelo desassossego tão pessoano, logo Português. Montra de ficção e auto-reflexividade narrativa, porque roteiro em aventuras da escrita, com a solidão, que soma alteridade, rumo às palavras e silêncios, que apelam ao anti-herói. Manifesto da cultura do efémero, fixa-lhe assim a náusea do quotidiano. Eis o desencanto, perante o olhar versus banalidade. Tinha outro apontamento no livro. 'Com a voz e o piano de Tom Waits por perto'.Tudo isto vêm a propósito, porque se anuncia o próximo livro de Paulo Castilho. Hoje as 'Crónicas de Francisco José Viegas' blogue 223, alertavam para o seguinte:«Excelente novidade para encerrar o ano editorial: sai durante este mês de Novembro o novo romance de Paulo Castilho (diplomata, autor de 'Fora de Horas' e 'Sinais Exteriores'). O título é 'Letra e Música', publicado pela Oceanos» Que assim seja, uma bela prenda para o Natal!

12 de novembro de 2008

O SENHOR, CINEMA

«Este autor que nunca fez filmes declaradamente políticos exprimiu a liberdade democrática em toda a sua obra, abordando como nenhum outro cineasta português a temática deste país como uma construção linguística, cultural e política desde o tempo das Descobertas (em termos muito diferentes de Teixeira de Pascoaes, na Arte de ser português). Ver O Quinto Império- Ontem como hoje (2004) é um exercício cívico para qualquer português, uma necessidade política, mais profícua do que assistir a um debate de campanha eleitoral. Mas permanece um mistério difícil de desvendar na sua obra cinematográfica. O seu cinema é difícil de ser apreendido pois é sempre uma surpresa ouvir uma Ave Maria de Schubert tocada em guitarra portuguesa numa tasca em Alfama»






Gosto particularmente de Cinema. E quando falo desta "sétima arte" é com alguma nostalgia das velhas salas, onde um mundo novo surgia em nosso redor. As portas de entrada estavam nas bibliotecas públicas e dos amigos, também na livraria "Apolo" do Manuel Castela, (na cidade de Santarém) e nos Cinemas, para se poder ver e aprender algo diferente. Vão muitos anos é certo, mas convivo mal - aliás pessimamente - com os enlatados filmes que por aí abundam, salvo as honrosas, nobres e muito raras excepções de histórias bem contadas. Tenho frequentado pouco as salas de cinema, mas não é por causa da Net, Televisão, ou ainda do club de vídeo da avenida. Nada disto, é que muito do cinema que por aí circula lembra-me a pasta dentífrica do mundo globalizado. Não quer dizer que a "Couto" de outros tempos fosse a ideal...mas era medicinal! O Cinema que eu gosto era deste calibre. Trazia aventura, ensinamento, era comunicativo, era magia. Tudo isto a propósito de três filmes portugueses que vi, e me marcaram: "Porto da Minha Infância" (2001); "Um Filme Falado" (2003) e "Espelho Mágico" (2005) . Por sinal todos realizados por Manoel de Oliveira. O mesmo que,«garantiu que vai continuar a filmar e pede meios para realizar novas longas-metragens, mas, mesmo que não os tenha, o cineasta explicou que não largará a câmara de filmar e poderá inclusivamente voltar a fazer documentários.
A 8 de Dezembro, o mais velho realizador do Mundo fará 100 anos e este domingo terminou a homenagem na Fundação de Serralves «Manoel de Oliveira: ver e rever todos os filmes (e mais alguns ainda)». O último dia ficou marcado por um pedido de um espectador: «Queremos mais filmes!» «Tem de esperar um pouco mais», respondeu feliz, como conta a agência Lusa, Manoel de Oliveira.
«Dois trabalhos na calha»
O regresso ao trabalho está marcado para a rodagem de «Singularidades de uma rapariga Loura», a partir de um conto homónimo de Eça de Queirós, mas o realizador português confessou já que, depois, «gostava de fazer O Estranho caso de Angélica, que é um projecto já dos anos 50 que o SNI (Secretariado de Informação) rejeitou».
«O primeiro filme destina-se ao Festival de Berlim e eu gostava muito de fazer o outro, O estranho caso de Angélica, para o Festival de Cannes, se me derem meios para tal», afirmou Manoel de Oliveira garantindo que vai manter-se no activo de qualquer forma: «Não deixarei de trabalhar. Se não tiver dinheiro para fazer os filmes de ficção, voltarei aos tempos antigos, voltarei para o documentário.»
Muito trabalho, muitos impostos
Setenta e sete anos depois da estreia com o documentário sobre a sua cidade natal, «Douro, faina fluvial», o cineasta portuense explica que nos dias de hoje «o financiamento estatal dá para cerca de metade do custo total e o resto é preciso encontrar noutras partes», pois «parece que eles [os políticos] ainda não se aperceberam bem desta questão».
«Cada filme dá trabalho a uma equipa completa, músicos, actores, figurantes, dá trabalho à Tóbis, que continua a tirar cópias do meu primeiro filme, que foi feito em 1931 e de todos os outros», disse o realizador explicando que o Estado recebe 46 por cento em impostos e que as entidades oficiais «recebem mais do que aquilo que dão para fazer os filmes».
Fonte:Portugal Diário.

http://www.madragoafilmes.pt/manoeloliveira/


11 de novembro de 2008

"ARCOLUZ" - RENAUD GARCIA-FONS TRIO













De novo as "outras músicas". Para quem gosta das sonoridades oriundas do Al Andaluz não deve passar em claro, o belíssimo trabalho musical do contrabaixista francês, Renaud Garcia-Fons. Contudo antes de se avançar para este projecto de título "ARCOLUZ" - A Live Recording distribuído pela editora Enja, proponho uma visita ainda que rápida ao passado recente das sonoridades "gitanas" entre os médios Pirenéus franceses, e as terras da Camarga com lugares precisos entre Arles, Nimes, e Sainte Maries de la Mer. Nos meados da década de 60, um guitarrista de nome Ricardo Baliardo foi figura particular nas praias do Sul de França. Visita frequente de Pablo Picasso, Brigitte Bardot e Salvador Dali, percebe-se que para além do génio da guitarra, Manitas de Plata (baptizado por Pablo Picasso) trazia também uma certa áurea, de "profeta" do Flamenco. Deixou escola, e as sonoridades da Camarga nunca mais foram as mesmas. Tratava-se de uma sonoridade muito própria, entre as canções das romarias, e o caminhar das próprias trupes estrada fora. Este som de "arraial cigano" foi na época divulgado no sul de França, sobretudo por dois músicos: Ricardo Baliardo/Manitas de Plata, e José Reys. O Sul de França muito deve a estes músicos de génio. Mais tarde, nos idos anos 80 outro grupo surgiu dos territórios de Arles e Sainte Marie de La Mer. Foram os Gipsy Kings de outros Baliardos e do clan Reys, pois eram primos dos primeiros e de novo voltaram a fazer o mesmo percurso: das praias aos palcos do Mundo, mas desta vez somaram-lhe um certo Gipsy/Rock e em abono da verdade, até que não se deram mal! Falamos deste passado recente, porque no trabalho ARCOLUZ do músico françês Renaud Garcia-Fons, vamos não só encontrar a derivação destas sonoridades, - ainda que mais apuradas - músicos como o guitarrista (gitano) do Sul de França, Kiko Ruiz e ainda o multi-percursionista Negrito Trasante, que durante anos acompanhou os Gipsy Kings. Coisas da música! Renaud Garcia-Fons teve como principal influência musical, o jazz e a música clássica. Sonoridades distantes mas que por isso mesmo, se complementam. A estas misturou o flamenco, a "musette" e uma espécie de folclore imaginário, talvez músicas do mundo. A discografia de Renaud Garcia-Fons, teve como estreia o trabalho, Légendes (1992) ao qual se seguiu: Alborea (1995); Suite Andalouse (1995); Oriental Bass (1997); Fuera(1999); Navigatore (2001); Entremundo (2004) e Arcoluz(2006). Gosto particularmente da beleza desta música e das suas origens, a visita fica por certo complementada com os vídeos que junto. Uma visita sonora ao passado dos Baliardo/Reys, e o presente de Renaud Garcia Fons.
http://www.youtube.com/watch?v=DCd_GYY1fUI
http://www.youtube.com/watch?v=jGHtM_A_ofs
http://www.youtube.com/watch?v=Eex1aqbfP08
http://www.youtube.com/watch?v=TfVSjDOR0Gg
http://www.youtube.com/watch?v=VXt6htVi3C4

10 de novembro de 2008

"MARCADO PARA MORRER"



"Eu sou um fanático por livros, devo reconhecê-lo. Os meus locais de trabalho são os meus pátios de recreio, espalhados por Denver em recantos e livrarias poeirentas, em recantos de pesca, fora do caminho, onde por vezes um dos grandes está quieto, à espera. Sinto essa adrelina assim que chego à porta da frente: o meu coração bate mais depressa quando penso que nesse dia, no meio de toda aquela tralha, um livro que seja um verdadeiro achado poderá surgir."
John Dunning





Devo ao escritor, jornalista e divulgador cultural Francisco José Viegas, o facto de as minhas leituras se terem em grande parte, reencaminhado para o romance policial. Foi através de "UM CÉU DEMASIADO AZUL" ,- Março de 1995, Edições Asa. Como gosto de charutos e do FCP aproveitei a boleia do Inspector Jaime Ramos, e desenvolvi uma "espécie de rede social de afinidades" ou seja: o retorno da aventura pelo romance negro, a iniciação aos "Cogiva", "Coroa" e "Beldina" óptimos charutos açorianos, e depois a partilha daquele invicto "tripeirismo" do Ramos. Veio mesmo a calhar! Neste caso o crime compensou, e uns anos mais tarde e após a "descoberta" de James Ellroy, veio outro enorme tropeço: "ADEUS HEMINGWAY" de Leonardo Padura, também das edições Asa, e datado de Fevereiro de 2002. Gostei imenso da personagem Mario Conde, ex-policia e posteriormente investigador privado, e da forma clara mas muito simples, como se revela o melhor e pior da sociedade cubana. Como se costuma dizer: " fiquei cliente" ! Quem também nos conta uma "boa história" é o escritor americano John Dunning. Nascido na década de 40 (1942) em Brooklyn, é uma daquelas personagens que cola por inteiro ao romance negro. Falhada a infância e os estudos, viu-se na necessidade de multi-empregos para fazer o gosto à escrita. De cortador de vidros a treinador de cavalos, de repórter a editor de livros, de bibliotecário a proprietário de uma loja de raridades literárias, mas também animador radiofónico. Curiosamente Dunning, será um dos maiores especialistas na história da rádio nos EUA. Confessa ainda uma enorme paixão pelo cinema, tendo trabalhado com Robert Altman no argumento do filme "Thieves Like Us". O livro "MARCADO PARA MORRER" com primeira edição de Julho do presente ano, surgiu por cá através da EDITORIAL ESTAMPA, Colecção Sombra de Dúvida. É uma das opções para entrar no mundo fascinante da escrita de John Dunning. A insuspeita Book Review avisa: " Se o leitor é um bibliófilo, e se gosta de um bom mistério com um herói inteligente que nunca irá abandonar a realidade, mesmo que isso lhe custe aquilo que de mais caro possui, então Marcado para Morrer, de John Dunning, deverá ser o próximo livro a encomenda " . Por mim, a escolha ficou feita. A visita iniciática ao mundo de Dunning, pode ser ainda opção através de http://www.oldalgonquin.com/ .

8 de novembro de 2008

"FUGAS DE INVERNO"

Porque hoje é Sábado, fazemos nossas as palavras contidas no Blogue do Francisco José Viegas. E que bela sugestão pois!





O Público vai lançar uma edição especial da revista Fugas no dia 8 de Novembro – a Fugas de Inverno –, dedicada às férias de Inverno, disponibilizada gratuitamente com o jornal. A edição vai incluir diversas propostas de destinos turísticos. Os conteúdos vão abordar locais de frio e neve, mas também de praia e aventuras no deserto.
A Fugas de Inverno vai trazer as histórias de Elisabete Jacinto, João Garcia e Francisco José Viegas. Paralelamente, será apresentado a colecção de vinhos de Inverno de Rui Falcão e a recomendação de David Lopes Ramos de restaurantes para a estação.
in Diário Digital - 30.10.2008

7 de novembro de 2008

"DON´T TRY"










"Esta noite estou a beber uma garrafa a mais de vinho à tua saúde"

Charles Bukowski



Quando Henry Charles Bukowski faleceu em Los Angels aos 9 de Março de 1994, deixou escrito um simples pedido. Que no seu túmulo consta-se "Don't Try" ou seja "Nem Tente". O aviso ficaria assim para os incautos e também aos vindouros . Tudo começa supostamente ao contrário. Nasce na Europa (Alemanha) na década de 20, acompanha então os seus pais no regresso ao EUA porque o pai segundo consta, terá sido militar americano na primeira Guerra Mundial. Infância para o jovem Charles significa espancamentos e falta total de carinho familiar, mas na porta da adolescência outros males se afiguram. Um ataque de acne desfigura-lhe por completo o rosto, logo motivo para violentos tratamentos e idas aos Hospitais, mas também causa mais que lógica de isolamento, em rigor a ausência sequer de Amigos. E quem nada têm por vezes tudo procura. Foge da ausência da infância que não teve, evita a sombra da adolescência não sentida, vai pela fuga em frente até que tropeça numa vida suportável pelos livros e o álcool. Mistura mais que explosiva. Alcoolismo a mais, emprego de horas precárias, poesia de rua, errância total mas anotando as curvas da vida. Os cadernos que falam das noites ao relento são já produções temperadas com muito álcool e vadiagem, por isso tantas recusas por parte das editoras. Não era ainda cómodo ter alguém assim por perto. Por ora não tinha chegado o seu dia. Aos 40 anos a poesia de Bukowski era contudo incipiente, mas o adulto Charles já fazia pela vida. Um vagabundo alcoólico, igual a outros tantos como Jack London ou Jim Tullys só que tinha descoberto algo que os outros não o souberam fazer: trabalhar a imagem! Para isso cria um alter-ego, Henry Chinaski, influenciado por Hemingway e Dostoiévsky fermenta já para a escrita o cocktail da repulsa, do ódio, amor, paixão e melancolia. Em definitivo "o matar do Pai". O mito do Velho Safado, vem a caminho. Mas Bukovski aprendeu a vender a imagem, aliás sabia bem demais como o fazer. A garrafa de vinho passa a ser companheira a tempo inteiro, mas a máquina de escrever também, os óculos escuros, a barba descuidada, a escrita é cada vez mais solta e biográfica, mais criativa, e ausente de qualquer ideia de censura. Um bom produto de marketing estava lançado, havia que cuidá-lo. Assim foi. Os livros passam a reproduzir os ambientes de Los Angels, ruas e atmosferas, bares e prostituição, os temas são simples mas abrangentes, misturam mulheres, corridas de cavalos, e música clássica. A época também ajuda, e passa a ser convidado para leitura de poesia nas universidades e eventos culturais. O fim de sempre! Muita bebida, brigas e arrufos faziam parte do produto que vende. A fama chegou na década de 80, de todos os quadrantes avançam convites. O cinema aponta os holofotes, as sonoridades de Eddie Vedder e dos Red Hot Chili Peppers pegam nos seus poemas, mas é tarde porque tudo têm o seu tempo. Por cá chegam livros a conta gotas, recordo " Ao Sul de Lugar Nenhum", "Mulheres" e "Crónica de um amor louco" .

6 de novembro de 2008

"PÁGINAS" - RUBEN A.


“A vida em Portugal raras vezes se acontece. Temos de ir à procura dela, quando não morremos de tédio. Uma pessoa tem de tomar o comboio, um automóvel, uma laranjada, ou um avião para ir ter com a vida.” Ruben A.





Os livros trouxeram-me o hábito de os procurar, e foi desta forma que numa manhã do já longínquo mês de Abril do século passado, encontrei num alfarrabista de Cascais, o livro "Páginas V" de Ruben A. ou Ruben Alfredo Andersen Leitão.
Trata-se de uma primeira edição, datada de 1967 e dada à estampa pela parceria A.M.Pereira, Ldª. com sede em Lisboa.
Conheci a "personagem" Ruben A. graças ao incansável e não menos criterioso e excelente divulgador cultural, que dá pelo nome de António Mega Ferreira. Falemos então de Ruben A. Na sua época ( 26.05.20/26.09.75) terá tido o privilégio de viver pelo menos 5o anos à frente de tudo. Foi uma espécie de cometa, espalhou o saber e a escrita de tal forma, que ainda hoje se pergunta como é que morrendo aos 55 anos! deixou tamanha obra. A estreia foi na proporção do génio, por isso diferente. Em 1949 surge "Páginas" somatório e cruzamento de diversos géneros literários, tais como a ficção, o diário, e as "impressões" de viagens. Para que se perceba quanto cuidada e diferente era a sua prosa, veja-se os títulos dos capítulos de Páginas V: PÁGINAS DE CASA, Portugal visited-1954; JARDIM ANCORADO; PÁGINAS DE CASA-II; O PROFESSOR E O ARMÁRIO; PÁGINAS AMBULANTES; SHASKESPEARE EM CARNE VIVA; O ESPECTRO DO NATAL; Em 1954 com o romance "CARANGUEJO" define quanto mordaz é a sua prosa, e soma-lhe a desconstrução na totalidade dos chamados eixos narrativos. Ganha uma bronca com o regime, e os pensadores estabelecidos. Em frente pois! Na segunda metade da década de 60, surgem três volumes autobiográficos: O MUNDO À MINHA PROCURA. Direi que, imperdíveis! Em 1973, publica a novela SILÊNCIO PARA 4 ficando ainda na gaveta um romance histórico, KAOS. Autor que se questiona permanentemente, entre o Eu biográfico e a ficção histórica apresenta-se como um escritor que assume as fracturas de identidade. O livro PÁGINAS V que encontrei numa manhã de Abril de 1984, no alfarrabista de Cascais, diz o seguinte a págªs.140 " Os bons-dias começam com Gillette - e depois coloco um tampão supositório para os dejectos saírem pelos restantes orifícios deixados abertos. Ninguém tem a coragem de dizer que somos medíocres, a intriga e a denúncia são a trama dos medianos que nada podem fazer de construtivo. Cobardes no dia-a-dia, esquecem facilmente o que fomos. E a tragédia máxima é que não vivemos europeiamente - isto aqui é um recanto de subalternos a comandarem-se uns aos outros com apitos mal lambidos. "












5 de novembro de 2008

"KIND OF BLUE" ou a lenda do meio século!





Em 2 de Março do próximo ano, decorre meio século que o mais "evolutivo" de todos os grandes génios criadores da música popular afro-americana entrou em estúdio. Foi de 2/03 a 22/04/59. Falamos de Miles Davis, o solitário de sempre, o criador genial e fora de tempo, aplicando a regra que seria uma espécie de sexto sentido colectivo, mudando a seu belo prazer por quatro ou cinco vezes e nunca em definitivo, a história do jazz. Por cada ruptura, Miles criava história. E assim foi com "KIND OF BLUE". Nos meados da década de 50, Miles tinha tocado em Paris, conheceu Boris Vian e Juliette Gréco, gravou com os melhores jazzmen parisienses a banda sonora do filme de Louis Malle, - "Ascenseur pour l´échafaud " (Fim-de-semana no Ascensor) e julgava-se que o estado de graça ou o melhor da época clássica do músico, estava prestes a terminar. Era óbvio que se adivinhavam mudanças, daí que no retorno aos EUA tivesse optado por uma fase, onde o improviso era já uma constante. Seria um período no qual desejava fazer experiências, e para tal foram convidados os seguintes músicos: Winton Kelly e Bill Evans no piano; John Coltrane no sax tenor, Julian Cannonball Adderley, sax alto, Paul Chambers no contra baixo, Jymmy Cobb na bateria, e Miles Davis no trompete. A gravação do que viria a ser Kind of Blue traduziu-se na composição de uma série de esboços "modais" a partir dos quais cada músico, improvisaria dentro dos paramêtros indicados por Miles Davis. Foi desta forma quase de auto gestão, e liberdade criativa que sete magníficos gravaram temas como: So What, Freddie Freeloader, Blue In Green, e Flamenco Sketches. Foi o álbum que mais vendeu na vasta discografia de Miles Davis, foi também a maior referência de vendas no mundo do jazz, apesar de gravado num limite de tempo mínimo e em circunstâncias tão particulares. É caso para dizer: Comemora-mos cinquenta anos, de mais uma mudança na já vasta história do jazz. O protagonista seria uma vez mais, Miles Davis.




4 de novembro de 2008

" ESTRELLA " DE LA AURORA

O nascer do dia é quase sempre precedido de um fenómeno muito belo, e que é constituído por imagens de uma particularidade intensa, porque cruza o fim da noite com o ressurgir da luminosidade. Por vezes parece até um instante, mas aquelas fracções de tempo são preciosas para o olhar. ESTRELLA MORENTE, ou Aurora Estrella Morente Carbonel nasceu no pueblo de Las Gabias, Granada, lugar de Poetas, "Cantaores", Mouros e de algo tremendamente universal que se chama Allambra. Filha de Henrique Morente conhecido como "o Picasso do flamenco" e da "bailaora" Aurora Carbonell ouviu desde cedo no berço do flamenco, os acordes das violas de seu avô Montoyita. O "cante rondo" foi assim assimilado não só no leite materno, mas também nas "tarantas" que o seu pai cantava. Não é pois de estranhar que brilhe uma estrela muito luminosa no flamenco e em toda a sua evolução, que felizmente mistura "los antiguos y modernos" e este é o verdadeiro segredo de uma sonoridade. Assim têm sido com o Jazz, Blues, Fado e o Tango. A voz de Estrella Morente é hoje comparada com a do cantor sufi "Nusrat Fateh Ali Khan" porque carrega esse período de aprendizagem, onde para além do flamenco, teve a oportunidade de ouvir e cruzar sons tão heterogéneos como os blues, a música bizantina, o jazz, o fado, e as vozes búlgaras. Na sua discografia podemos encontrar: "Mi cante y un poema" (2001), "Calle del Aire" (2001), "Mujeres" (2006), e "Casacueva y Escenario" (2007) em DVD. Recentemente a diva Carmen Linares aquando de um concerto de Estrella Morente no Teatro de la Maestranza de Sevilha, disse o seguinte: "Esta niña nos va a retirar a todos". É bem provável que as estrelas do passado nunca sejam esquecidas, mas o flamenco nunca mais será o mesmo depois de se ouvir a voz de Estrella Morente de la Aurora.







3 de novembro de 2008

TEDDY EDWARDS, "The Last Train"

Neste início de semana e de mês, voltamos ao Jazz. Este retorno ás sonoridades da música popular afro-americana, lembra-me os tempos do chamado “ éter “ . Nessa inovadora década de 90, sem preocupações de audiências, divulgava-se música noite dentro! Trouxe assim o saxofonista Teddy Edwards, recordando o trabalho “Blue Saxophone” (1992). Músico que conheci “por arrasto“ e na boleia da banda sonora do filme, “ One from the Heart “ de Francis Ford Coppola. Nesse Lp – estávamos em 1982 – era notória a participação do clan Waits ( Tom e Kathleen Waits ) e do desconhecido - para mim - Teddy Edwards. Perante a dúvida de quem era o músico do sax tenor, Waits com aquela habitual voz rouca, respondia, “ gosto de músicos que são e tocam da mesma maneira. Bebem champanhe num comboio, e mostram-nos os caminhos do Mundo “. Percebi a mensagem. Estávamos perante um músico e orquestrador arquitecto de uma sonoridade própria, porque sabia misturar aquilo que o jazz tem de melhor. A sua multi-origem. Passei a comprar os discos de Teddy Edwards, de preferência na companhia de Tom Waits. Assim foi com “ Mississipi Lad” ou seja a homenagem do músico às suas origens. Edwards saiu cedo do Mississipi natal para Los Angels, conheceu um atleta do trompete de nome Howard McGhee, e partiu para a aventura dos sopros junto do Quinteto do baterista Max Roach. Nessa época, anos 50 tocava nesse quinteto um trompetista de nome Clifford Brown. Desses encontros ficou o clássico “ Sunset Eyes” e registava-se também um marco importante para a definição do chamado som da Costa Oeste. A aventura continuou, e o nosso “little man” tocou com Benny Goodman, Dizzy Gillespie, Milt Jackson, Ray Brown, e Benny Carter. Como qualquer ave de arribação, apenas “tocou” a Europa em 1978 para visitas regulares aos festivais de jazz na Noruega, Holanda e Bélgica. Em Abril de 2003 Rob Partridge, da prestigiada Blue Note Records escrevia em The Last Post: “ Teddy Edwards, um dos melhores saxofonistas tenores de jazz, morreu em Los Angels . Tinha 78anos.
http://www.youtube.com/watch?v=8Bp3L9m4KXw

2 de novembro de 2008

"A VIAGEM VERTICAL"

Quando comecei a gostar de livros, percebi perfeitamente que tinha iniciado uma viagem sem regresso. Na altura frequentava um círculo de Amigos que falavam e discutiam assuntos, que eu nunca tinha sequer ouvido falar. Chamava-se a essa forma de aprendizagem a "Universidade do paleio". Foi assim que os autores malditos, entraram pela primeira vez na minha casa. Foram ficando! Depois ao longo dos anos, quantas vezes não me aconteceu levar um livro totalmente desconhecido, só porque na capa estava isto ou aquilo, um pormenor que quantas vezes nos pega pela mão sem o sabermos, e temos o livro connosco para sempre. Foi assim com " A Viagem Vertical " de Enrique Vila-Matas. Adquiri o livro em Março de 2003 sem saber ao que ia. Lembro-me sim da capa, parecia uma fotografia da " boca do inferno " lugar mítico, perto de Cascais, de onde o mágico terá fugido/desaparecido para sempre ao Amigo Pessoa? Não me apercebi sequer que a viagem vertical seria para mim, até então uma modalidade desconhecida, pela fuga em frente. A personagem do romance de Vila-Matas, Federico Mayol, homem de negócios, septuagenário, nacionalista catalão, jogador de póquer vê-se subitamente em plena velhice, obrigado a deixar a sua casa para sempre. Fantasmas da idade, a solidão, a loucura e depois a dicotomia:sobrevivência ou suicídio? Esta derradeira viagem vertical de Federico Mayol, começa em Barcelona, evoca a cidade ou o filme da sua vida mas ao contrário, depois surge-nos na cidade do Porto com passagens pelo Majestic ou Hotel da Boavista - e que belíssimos comentários sobre estes lugares - acerca-se de Lisboa, e fala-nos da "Boca do Inferno" como a terra da serpente, ou seja o perder da pele, um catarse diferente. Deixar para trás algo que nunca mais somos! O porquê desse lugar? A diversidade Pessoana por perto? Talvez essa desmultiplicação de seres, e continua a viagem rumo desta feita à Madeira, onde o personagem desaparece, como que num fosso Atlântico para adormecer em Havana. Ajuste de contas finais com o passado, porque existem (sempre) idades para começar de novo, tudo! Por isso Federico Mayol nos avisa: " Quando viajas com alguém, tens sempre a tendência para ver o que te rodeia com estranheza enquanto que, quando viajas só, o estranho és sempre tu". O perder da pele, ou o "Eu estranho pessoano" por perto! Grande mapa de nós mesmo, em qualquer idade este belo livro do (in)comum, Enrique Vila-Matas.

1 de novembro de 2008

EXEMPLOS

Para quem gosta de jazz não deve por certo passar em claro, o feliz cruzamento desta sonoridade da música popular afro-americana, com o flamenco. Na verdade este "flamenco/jazz" têm sido rico em encontros: John Coltrane gravou "Olé" em 1961; Miles Davis/Gil Evans estiveram juntos em "Sketches of Spain" no ano de 1963; Pedro Iturralde Ochoa e o então jovem Paco de Lucia, gravaram em 1967 o célebre e histórico " flamenco jazz ". Vêm este passado de fusões em sonoridades tão próximas quanto distantes, a propósito de um recente trabalho produzido pelo Instituto Valenciano de La Música, aquando do Festival Xàbia Jazz organizado pelo Municipio de Jávea, e patrocionado também pela comunidade autónoma de Valencia. Todos os anos um músico valenciano é convidado a produzir "un proyecto especial". Desta vez coube ao saxofonista Perico Sambeat -www.myspace.com/pericosambeat - a produção do evento. Do feliz encontro, surge "FLAMENCO BIG BAND" reunindo assim uma panóplia de músicos afectos a esta intensa, e criativa sonoridade. A título de exemplo direi que na voz encontramos Miguel Poveda, na guitarra flamenca Gerardo Núñez, no piano Albert Sanz e o português Bernardo Sassetti, no contrabaixo Javier Colina, na bateria Marc Miralta, na percussão (palmas e sapateado) Carmen Cortés, e na flauta, sax alto, e soprano - entre outros músicos - surge na direcção musical do projecto, Peric Sambeat e diga-se, - em boa e feliz hora! Este é o exemplo que vêm de uma comunidade autónoma da vizinha Espanha. Porque hoje é Sábado, fica aqui a nossa escolha: "Flamenco Big Band" de Perico Sambeat.

RESTAURAÇÃO


VERDADES:

"Pessoa é a literatura. Não há maior nem melhor. Ele inventou a literatura." Mariano Deidda, músico italiano. Fonte:CM

(EX)CITAÇÕES:

«Vale mais uma página de qualquer discurso de Salazar do que toda a obra de Saramago. Estilisticamente. O autor de cabeceira do Salazar era o padre António Vieira. Se ler qualquer dos discursos do Salazar lê português. Que é uma coisa que já raramente se encontra. É um clássico.» Fonte:DA LITERATURA, 29-11-08