12 de novembro de 2008

O SENHOR, CINEMA

«Este autor que nunca fez filmes declaradamente políticos exprimiu a liberdade democrática em toda a sua obra, abordando como nenhum outro cineasta português a temática deste país como uma construção linguística, cultural e política desde o tempo das Descobertas (em termos muito diferentes de Teixeira de Pascoaes, na Arte de ser português). Ver O Quinto Império- Ontem como hoje (2004) é um exercício cívico para qualquer português, uma necessidade política, mais profícua do que assistir a um debate de campanha eleitoral. Mas permanece um mistério difícil de desvendar na sua obra cinematográfica. O seu cinema é difícil de ser apreendido pois é sempre uma surpresa ouvir uma Ave Maria de Schubert tocada em guitarra portuguesa numa tasca em Alfama»






Gosto particularmente de Cinema. E quando falo desta "sétima arte" é com alguma nostalgia das velhas salas, onde um mundo novo surgia em nosso redor. As portas de entrada estavam nas bibliotecas públicas e dos amigos, também na livraria "Apolo" do Manuel Castela, (na cidade de Santarém) e nos Cinemas, para se poder ver e aprender algo diferente. Vão muitos anos é certo, mas convivo mal - aliás pessimamente - com os enlatados filmes que por aí abundam, salvo as honrosas, nobres e muito raras excepções de histórias bem contadas. Tenho frequentado pouco as salas de cinema, mas não é por causa da Net, Televisão, ou ainda do club de vídeo da avenida. Nada disto, é que muito do cinema que por aí circula lembra-me a pasta dentífrica do mundo globalizado. Não quer dizer que a "Couto" de outros tempos fosse a ideal...mas era medicinal! O Cinema que eu gosto era deste calibre. Trazia aventura, ensinamento, era comunicativo, era magia. Tudo isto a propósito de três filmes portugueses que vi, e me marcaram: "Porto da Minha Infância" (2001); "Um Filme Falado" (2003) e "Espelho Mágico" (2005) . Por sinal todos realizados por Manoel de Oliveira. O mesmo que,«garantiu que vai continuar a filmar e pede meios para realizar novas longas-metragens, mas, mesmo que não os tenha, o cineasta explicou que não largará a câmara de filmar e poderá inclusivamente voltar a fazer documentários.
A 8 de Dezembro, o mais velho realizador do Mundo fará 100 anos e este domingo terminou a homenagem na Fundação de Serralves «Manoel de Oliveira: ver e rever todos os filmes (e mais alguns ainda)». O último dia ficou marcado por um pedido de um espectador: «Queremos mais filmes!» «Tem de esperar um pouco mais», respondeu feliz, como conta a agência Lusa, Manoel de Oliveira.
«Dois trabalhos na calha»
O regresso ao trabalho está marcado para a rodagem de «Singularidades de uma rapariga Loura», a partir de um conto homónimo de Eça de Queirós, mas o realizador português confessou já que, depois, «gostava de fazer O Estranho caso de Angélica, que é um projecto já dos anos 50 que o SNI (Secretariado de Informação) rejeitou».
«O primeiro filme destina-se ao Festival de Berlim e eu gostava muito de fazer o outro, O estranho caso de Angélica, para o Festival de Cannes, se me derem meios para tal», afirmou Manoel de Oliveira garantindo que vai manter-se no activo de qualquer forma: «Não deixarei de trabalhar. Se não tiver dinheiro para fazer os filmes de ficção, voltarei aos tempos antigos, voltarei para o documentário.»
Muito trabalho, muitos impostos
Setenta e sete anos depois da estreia com o documentário sobre a sua cidade natal, «Douro, faina fluvial», o cineasta portuense explica que nos dias de hoje «o financiamento estatal dá para cerca de metade do custo total e o resto é preciso encontrar noutras partes», pois «parece que eles [os políticos] ainda não se aperceberam bem desta questão».
«Cada filme dá trabalho a uma equipa completa, músicos, actores, figurantes, dá trabalho à Tóbis, que continua a tirar cópias do meu primeiro filme, que foi feito em 1931 e de todos os outros», disse o realizador explicando que o Estado recebe 46 por cento em impostos e que as entidades oficiais «recebem mais do que aquilo que dão para fazer os filmes».
Fonte:Portugal Diário.

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