10 de dezembro de 2008

O PIRATA ALENTEJANO





O escritor chileno, LUIS SEPÚLVEDA esteve recentemente em Portugal. Veio no balanço de outras histórias. Literatura, afectos e memórias. Viagens, também. A Revista Ler deste Dezembro friorento e chuvoso, revela-nos um Sepúlveda entre a memória e a ficção. 'Nunca conseguimos reproduzir as coisas exactamente como elas foram. Quando recordamos o que se passou ontem, já estamos a ficcionar.' Assim foi apresentando o seu mais recente livro, 'A Lâmpada de Aladino e Outras histórias para vencer o Esquecimento'. Da entrevista com o título 'A VIDA ESTÁ CHEIA DE LITERATURA' citamos o seguinte trecho.
Ler - O penúltimo conto tem como protagonista um pirata português, Valdemar do Alentejo. De onde é que surge esta figura? Inspirou-se numa história verdadeira?
L.S. - Sim. Valdemar do Alentejo é uma personagem absolutamente real. E convém explicar que se trata de um verdadeiro pirata. Não confundir com corsários, flibusteiros ou bucaneiros. Os verdadeiros piratas, que eram homens livres no mar, foram muito poucos Na verdade, só houve piratas em três lugares. No mar do Norte, por onde passou um pirata chamado Klaus Störtebeker, que assaltava os navios da Liga Hanseática e distribuía o saque pelos pobres à laia de Robin Hood; nas costas africanas sob a forma de uma república pirata berbere, com um código de conduta ético rigorosíssimo; e depois no estreito de Magalhães, onde coexistiam duas confrarias de piratas. Uma dirigida por dois holandeses, desertores da marinha de guerra dos Países Baixos, os Van der Meer. E outra que tinha como capitão, o Alentejano.
Ler - Os piratas sempre encarnaram aquilo que gostávamos de ser e não podemos, a liberdade absoluta.
L.S. - Claro. Infelizmente, a imagem que temos hoje dos piratas é uma simplificação muito grosseira do que eles foram, uma mitificação ao pior de Walt Disney. A mim, por exemplo, fascina-me saber que os piratas da Patagónia e os do mar do Norte, apesar de separados por centenas de anos e por muitos milhares de quilómetros de distância, tinham muito em comum. A bandeira de Störtebeker era igual à dos Van der Meer e do Alentejano. Nada de bandeira preta, com caveiras e tíbias. Não. Era uma bandeira metade vermelha e metade negra. Quatro séculos mais tarde, foi essa também a bandeira dos anarquistas.
(EX)CITAÇÕES:
'Portugal e a pirataria
O corso português tornou-se comum no século XIV, altura em que D. Dinis contratou Manuel Pessanha, ficava com um quinto da riqueza dos barcos e com os navios e as armas destes. A partir de 1443 os corsos portugueses passaram o tributo, tal como pagavam a D. Dinis, de um quinto das pilhagens efectuadas ao Conde D. Henrique. Um dos principais objectivos dos portugueses era dominar o estreito de Gibraltar de modo a combater parte da pirataria e do corso sarraceno, assim como com o domínio deste espaço este se tornaria num importante entreposto comercial. O corso português destacou-se principalmente contra o reino de Granada, no sul de Espanha, enfraquecendo assim o domínio deste reino muçulmano na Europa.
Em 1446 reuniram-se as cortes em Lisboa, onde os mercadores algarvios, representados pelos armadores de Tavira queixaram-se das perseguições e pilhagens dos compatriotas armados lhes faziam a eles e aos aliados cristãos (castelhanos, galícios, aragoneses, entre outros), fazendo assim com que o Algarve perdesse a sua importância como ponto de cabotagem. Entre os corsos portugueses desta época destacaram-se Gonçalo Pacheco, Mafaldo, Lançarote.
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Fonte: Wikipédia.