21 de dezembro de 2008

' PORTUGUÊS SUAVE '


Estamos a chegar ao Natal! Nesta porta de afectos múltiplos entre o passado e o presente pede-se muitas vezes o impossível - O Homem novo! Também o peço. Nunca consegui fazê-lo de outra forma, senão pelas ideias, pelo apelo simples ao cidadão comum, pelo acto individual. Respeito as religiões mas nunca percebi os ódios que fomentam. Questiono sempre como foi possível tantos anos de obscuridade e guerras religiosas. O Homem novo nunca poderia surgir da violência. Entre o passado e o presente cito parte de 'O Natal de Moledo'. Um tempo que já não volta, um tempo de simples afectos.
'O jantar de Natal é em Moledo, embora uma parte da família, mais cosmopolita, ache que não faz sentido reunir-se neste eremitério para assinalar a sobrevivência dos Homem no início do século XXI, mais do que o nascimento de Cristo. Este último dado passa ao lado dos jantares de Natal, aqui e em grande parte das famílias. Eu nasci no princípio do século XX mas a minha herança é do século anterior. O velho Doutor Homem, meu pai, Dona Ester, minha mãe, a Tia Benedita, o Tio Álvaro e as memórias do meu clã particular pertencem, todos ao século XIX. O sonho da Tia Benedita era ouvir, nas Cortes, os discursos de José Acúrcio das Neves defendendo a legitimidade do senhor Dom Miguel; o velho Doutor Homem, meu pai, lia romances ingleses passados antes das duas guerras, como se a geopolítica europeia pudesse centrar-se, de novo, em Westminster. Como não conseguia, limitava-se a ler o "Telegraph" e a vestir como um sóbrio burguês de Londres. Essa Londres já não existia há muito, mas fazia-lhe falta, como a ordem que impôs à sua colecção de poesia inglesa nas estantes escuras da velha casa do Porto. Dona Ester, minha mãe, impunha um mínimo de razoabilidade nas coisas de família, e lidava com as várias mitologias caseiras como produto de adolescências tardias ou prolongadas. Era o nosso modo de vida: manter a excentricidade para não abrir as portas ao esquecimento. ' Fonte: Em certos aspectos, António Sousa Homem.
(EX)CITAÇÕES:
' As legislativas são uma formalidade incómoda para as dezenas de "barões", que esperam o seu momento. Nas locais, pelo contrário, é das câmaras que se trata e os “barões” precisam das câmaras para base de manobra. Santana Lopes viu bem o problema. Instalado em Lisboa (se por acaso correr com António Costa) e sem Ferreira Leite ou a facção “reformista” no horizonte, começa para ele uma nova carreira. Sócrates que não se aflija com o PSD. O PSD não lhe tenciona tirar a maioria absoluta, tenciona defender e aumentar a sua federação de “feudos”. Com a ajuda da dr.ª Ferreira Leite. ' Fonte: VPV. Público 20/12/08.
UM LIVRO:
' NEGRAS COSTAS DO TEMPO ' - Javier Marías, Relógio d' Água.
OUTRAS MÚSICAS:
' CAMARÓN ANTOLOGIA ' PolyGram Ibérica S.A. - 1996.