Para ela, aquele homem proibido se tornou um quebra-cabeças, quando a cada contato ela descobre uma peça mais excitante que a anterior. É um amor recíproco, mas incomum. Surgiu na contra-mão da modernidade. Surgiu e cresce sem precisar do toque físico; sem beijos impulsivos. Se alimenta acima de tudo dos olhos dele sobre o corpo dela, pois assim ela quis que acontecesse. Como se tivessem combinado um jogo amoroso diferente. Mas agora ela tinha um dado novo: a voz. Uma voz grave, pausada, que disse tão pouco, como quem quisesse apenas “pingar” palavras na dose certa, garantindo assim, a certeza de nada arriscar ou comprometer. Não disse nem mais nem menos. O suficiente para fazer surgir dentro dela o enorme desejo de descobrir mais um pedacinho daquele homem tão enigmático. Ele disse querer descobrir suas cores e sabores e ela só desejava sentir cheiro dele, que já sabia que iria gostar.
Cheiros e gostos. Era o que faltava para descobrirem a peça mais importante do quebra-cabeças. Depois de revelada a peça “coringa”, aí a melhor parte do jogo estaria pronta para começar: o tocar com desejo incontido, o provar com desejo de devorar, enfim o trocar.
Ele se foi, pois, ele é um homem do mundo, e ela seguiu sua vida cotidiana, mas sempre esperando que ele telefone de algum lugar do mundo, o mais breve possível. Quem sabe no meio de alguma noite, sozinho na África ou na Europa, em que ele imagine as mãos dela no corpo dele. E ele sempre liga. Até quando…
Ela voltou para a cama e dormiu novamente.Ao fundo, bem baixinho Billie Holiday cantava…
Elaine Bento