12 de outubro de 2009

SHERLOCK HOLMES

(...)
Vem de uma Londres de gás e neblina,
uma Londres que se sabe capital de um império
que pouco lhe interessa, uma Londres de mistério
tranquilo, que não quer sentir que já declina.

Não nos espantemos. Depois da agonia,
o fado, ou o acaso (que é a mesma coisa),
concede a cada um essa sorte curiosa
de ser ecos ou formas que morre cada dia.

Que morrem até um dia em que o olvido,
que é a meta comum, nos esqueça de todo.

Antes que nos alcance, brinquemos com o lodo
de ser durante um tempo, de ser e de ter sido.

Pensar, tarde a tarde, em Sherlock Holmes
é uma das boas coisas que nos restam. A morte
e a sesta são outras. Também é a nossa sorte
convalescer num jardim ou olhar a lua.

Fonte: Borges, Jorge Luis, Os conjurados, Difel, 1985.